Diga não ao aconselhamento clássico
- Edienny Lobato
- 26 de mai. de 2022
- 3 min de leitura

Ninguém tem dúvidas de que hoje é muito fácil obter acesso a qualquer informação. Se eu tenho dúvida sobre algum teste diagnóstico, em poucos segundos de pesquisa no google consigo obter essa resposta. Se eu quero revisar a eficácia de uma determinada vacina, bastam poucos minutos de pesquisa e já tenho pelo menos três possíveis respostas de laboratórios diferentes. Agora pensa aqui comigo, se essa facilidade existe para mim, imagina para os nossos pacientes?
Sim, cada vez mais a população se informa pelas múltiplas fontes disponíveis, se abastece de novas verdades e passa a enfrentar os profissionais de saúde, principalmente aqueles profissionais que ainda preservam o papel tradicional de conselheiro e detentor da verdade.
Eu sei, eu sei que o médico que utiliza esse papel o faz na melhor das intenções, mas inconscientemente ele acaba tirando do paciente a liberdade de escolher e decidir o que é melhor para ele, partindo do pressuposto de que “por ele não ter informações, precisa ser informado”.
Se você é mãe, profissional de saúde e teve a oportunidade de levar seu filho a um pediatra para ter um acompanhamento conjunto, com certeza já ouviu algum conselho que deixou meio de lado, ao mesmo tempo em que pensou: “mas isso não se faz mais, hoje em dia”.
Bater a papinha no liquidificador e oferecer na mamadeira pode até ter sido uma forma interessante de propor uma introdução alimentar no passado, mas se você é curiosa e segue algum perfil nutricional sobre maternidade no instagram com certeza já deve saber que hoje temos formas melhores de fazer essa apresentação e, por não existir certo e errado, você têm inclusive a magnifica opção de poder escolher o que você prefere fazer com o seu filho: dar alimentos amassados ou BLW.
E talvez seja exatamente assim, deixando as informações meio de lado, que alguns de seus pacientes saem do seu consultório. Consigo até imaginar o pensamento deles: “O médico me disse para parar de consumir gordura, mas todo mundo já sabe que não é a gordura natural dos alimentos que realmente faz mal”.
Certa vez, ao comentar com um paciente sobre a possibilidade de iniciar uma suplementação com ômega 3, ele me questionou: “mas esses suplementos a base de óleo de peixe não costumam vir contaminados com mercúrio?”
E, não vai ser ridicularizando a informação que ele tem que eu vou conseguir fazê-lo compreender aquilo que eu julgo como minha verdade. Vamos pensar de forma ampla? Ridicularizar alguém que tem um pensamento anti-vacinas não vai fazê-lo mudar de opinião. Alguém tem dúvidas disso?

A ideia até aqui não é alimentar nenhuma polêmica sobre o assunto informação, mas apenas mostrar que essa abordagem clássica do aconselhamento está vinculada ao enfraquecimento do papel do profissional de saúde.
Quantos milhões de tipos de dietas precisam surgir para a gente entender que nenhuma será eficaz para conter a epidemia de obesidade? E a questão do exercício físico, será que alguém ainda não compreende os benefícios? Tabagismo então, nem se fala. De hábito com potencial cancerígeno com forte ligação a doenças cardiovasculares, hoje existe um crescente movimento pela liberdade de escolha: fumo porque sou a favor das liberdades individuais e posso assumir meus próprios riscos. Já ouviram esse discurso?
Então, o que precisamos entender neste primeiro momento é que o consultório não é um campo de batalha e nem mesmo um ringue e você é médico e não juiz. Você está sentado lado a lado com o seu paciente.
Não veja o seu paciente como uma página em branco. Ele traz na bagagem uma série de informações, algumas bem fundamentadas e outras nem tanto, mas todas igualmente necessárias para levá-lo a tomar uma decisão. O seu objetivo é transformar o modo como o seu paciente se relaciona com a própria saúde e como ele cuida dela, ajudando-o a encontrar a própria motivação, a contornar a resistência e a promover mudanças comportamentais realmente sustentáveis e duradouras.
Eu não quero que você deixe de compartilhar informações com o seu paciente, mas sim que a partir de agora você comece mais a praticar o hábito de fazer perguntas e ouvir o que ele tem a dizer. Seja humilde em propor possíveis meios de tratamento e esqueça aquele velho hábito de empurrar soluções prontas para problemas complexos. Se você acredita que é um bom momento para falar sobre dieta, exercício físico ou malefícios do tabagismo, siga alguns pontos importantes antes de oferecer o conselho:
Primeiro: cheque o que o seu paciente já sabe sobre aquele assunto
Segundo: peça permissão para compartilhar novas informações
Terceiro: avalie o entendimento dele a respeito dessa nova informação
Você vai ver que esse simples exercício vai aumentar a atenção que seu paciente dá a informação que é dividida com ele. Isso ocorre porque no momento em que você pergunta o que ele já sabe sobre um determinado assunto, ele se sente valorizado e respeitado.
Respeite o seu paciente, afinal, ele também sabe das coisas!
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